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Senhoritas podem ser detetives – resenha do livro “As aventuras da senhorita detetive Loveday Brooke”

Publicado em 2020 na revista TxTMagazine,
texto por Victoria Toscani

O primeiro comentário que vem a mente sobre a obra de Pirkis é o fato de a Detetive Loveday Brooke parecer a versão feminina do Detetive Sherlock Holmes, contudo, apesar da repercussão da personagem de Conan Doyle ser consideravelmente maior, essa comparação se esbarra na própria idealização de um livro de histórias protagonizadas por uma mulher que não precisa ser comparada com homem nenhum. A maior militância feminista dessa produção é justamente a questão de gênero não ser considerada pelas personagens que tramitam ao entorno da detetive; em nada ser mulher lhe coloca obstáculos e mesmo quando surge a questão, o posicionamento da protagonista se mostra muito mais inteligente, fazendo o próprio questionamento parecer descabido.

Imagem do livro.

Essa primeira impressão das narrativas da Detetive Loveday Brooke demonstra o espírito vanguardista da autora, e são as marcas históricas que nos trazem de volta à realidade do século XIX na Inglaterra vitoriana, como o vestuário, os hábitos cotidianos e, especialmente, as formas de comunicação, que de tão obsoletas já se tornaram nostálgicas. São interessantíssimas notas culturais que ambientalizam o leitor, esclarecendo expressões, referências literárias e o advento de tecnologias como a luz
elétrica e sua repercussão na sociedade da época.

O estilo romance gótico também é muito característico desse tempo. As turbulências sociopolíticas, a criminalidade, o sensacionalismo nas ações, as tentativas (muito bem sucedidas) de chocar o leitor, aparecem em muitas obras datadas do mesmo período, como em Sweeney Todd – o Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet, em A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça e, como já citado, nos livros de Arthur Conan Dyle narrados pelo Dr. Watson.

A edição conta com as ilustrações originais do livro de 1894

Todas essas narrativas apresentam uma sucessão de fatores que prendem a atenção de quem lê, todavia, o diferencial da Loveday Brooke é que Catherine Pirkis escreveu uma defluência de casos rápidos de uma inteligência extremamente aguçada (a ponto do leitor se sentir exultante a cada plot twist), deixando migalhas para o consumidor pensador, que tenta incansavelmente buscar o fio da descoberta dos mistérios e se encontra levando a farinha enquanto a autora volta com o bolo.

Na era da famosa Scotland Yard, as aventuras da Detetive Loveday Brooke, além de geniais, se mostram muito inovadoras, surpreendendo o público a cada caso com resoluções que nem mesmo o mais ávido leitor de suspense e mistério consegue prever. Uma obra que realmente não dá para parar de ler, a qual pude ler previamente para trazer essa resenha com exclusividade.


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